Diz o abnegado médico ao professor:
- O senhor costuma falar em uma felicidade inalterável e indestrutível! Que espécie de felicidade e essa?
- É a felicidade que só se pode adquirir através o aprimoramento, gradativo e perseverante, dos predicados morais e espirituais.
- Embora eu não me considere um santo, tenho toda via, uma vida exemplar, como se costuma dizer. Vivo unicamente para minha família e para meus clientes. Não tenho vícios. Procuro não fazer mal a ninguém. Já alcancei, portanto, algum aprimoramento moral. Contudo, confesso que ainda não cheguei a essa facilidade extraordinária a que o senhor costuma referir-se.
- Eu o facilito, doutor, por conduzir sua vida de maneira tão nobre e elevada. Isso já é muito, mas ainda não é tudo.
- Que falta então?
-Falta-lhe adquirir altos conhecimentos espirituais que o tornarão ainda mais útil a si mesmo e a seus semelhantes.
- Haverá, por acaso, vida mais abnegada e mais útil do que a de um médico que, como eu, se consagra de corpo e alma a sua profissão? O senhor há de convir comigo, professor, que eu já me dedico muito aos meus semelhantes.
- Não há duvida, doutor. Inegavelmente, o senhor e exerce, com abnegação e consciência, sua nobre profissão e tem sabido manter uma vida exemplar perante a família e a sociedade. E, com isso, esta realizando muito, ate mesmo no terreno espiritual. Porém, perdoe-me a insistência, a sua atuação seria ainda mais eficiente se o senhor adquirisse conhecimentos de alto valor espiritual.
- Por quê?
-Porque, com eles, o senhor não só conseguiria a felicidade inalterável e indestrutível a que me refiro, como poderia transmitir a seus doentes, juntamente com o remédio para os males físicos, a vida e a força da palavra sublimada por essa mesma felicidade. Desse modo, o autor acrescentaria à terapêutica da ciência médica as orientações da ciência espiritual.
É possível que o tenha razão, mas a minha enorme clientela não me dá um minuto de folga, prefiro continuar a socorrêla com outros recursos de que disponho e que afinal, não têm dado resultado desfavorável.
- Quero acrescentar, ainda, doutor, que, com esses conhecimentos espirituais, se o senhor não só poderia atender melhor seus enfermos, mas também auxiliar a sua família e outras criaturas que, embora sadias de corpo, necessitam de alimento para o espírito.
- O senhor não acha que eu já me dedico o bastante á minha família e á minha clientela?
- Não e o suficiente para alcançar a felicidade invulgar a que me refiro. Para tanto, é necessário meditar e realizar ensinamentos de alta substancia espiritual, através de esforços individuais e coletivos.
- Como assim?
-Estudando individualmente, e também em conjunto, com outras pessoas de sentimentos afins, ensinamentos reformadores.Nessas reuniões, cada um ajuda o outro a penetrar na essência desses preceitos transformadores, cultivando o altruísmo e o amor espiritual, realizando a irmandade aconselhada por Jesus Cristo e cumprindo as leis de Deus.
- Mas... não acha o senhor que eu já pratico tudo isso em dose suficiente?
- Meu caro doutor, permita-lhe dizer-lhe que, a meu viver, isso é muito importante, mas não é suficiente.
- Por quê?
- Porque o amor espiritual precisa ser profundamente compreendido e sentido. Ninguém pode experimentá-lo em toda a plenitude sem que antes haja lapidado suas imperfeições e burilado seu espírito, através de um processo ininterrupto de evolução gradual. Por outro lado, o altruísmo autêntico deve ser amplo e generoso, de modo a abranger os seres bem intencionados para que se unam e se auxiliem mutuamente, em constante convivência fraternal.
- E se eu permanecer como “livre atirador”?... Faço pelos outros o que posso, sem compromissos, não será melhor assim?
- Doutor, não se alcança as altas prerrogativas espirituais através do comodismo ou da fuga aos compromissos e ás responsabilidades, que servem precisamente para forjar o caráter do homem que almeja liberta-se das pesadas algemas da limitação materialista.
- Sinceramente, professor, nunca pensei que para alcançar altos estados de evolução espiritual, fosse necessária essa convivência com outras pessoas estranhas, em freqüentes reuniões.
- Estranhas?!... As pessoas somente são estranhas enquanto não se identificam pelo pensamento construtivo. Veja, meu amigo, o grande exemplo que Jesus Cristo nos deixou. Vivia ele em união intima com seus apóstolos e discípulos, em reuniões espirituais identificados todos pelo pensamento divino contido no verbo redentor. Entretanto, nunca se isolou, coma sua família espiritual dos demais seres humanos. Ao contrário, constantemente pregava ás multidões e consolava os aflitos em todas as partes. Lembremo-nos, a propósito, da exportação do divino mestre: “Que vos ameis uns aos outros. Assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”.
Extraído de:
Jornal Verologia
Edição XXXV Nº 435 e 436
Artigo referente a Março e Abril de 2009