Como eliminar os sofrimentos ou reduzi-los ao mínimo - (Diálogo)

Impulsionado por desígnios superiores à sua vonta de, o professor Parsifal teve que passar alguns dias em Salvador, cidade cujas belezas naturais, cujos costumes específicos e cujo povo hospitaleiro almejava conhecer, mas esperava melhor oportunidade para fazê-lo detidamente. Foi, portanto, levado pelas circunstâncias a antecipar essa visita.

Embora conhecendo ali poucas pessoas, chegou à conclusão, nos dias da sua permanência em Salvador, de que resultavam secundários os motivos que o tinham
conduzido até lá, pois a razão precípua da sua ida à terra do grande Rui Barbosa se revelava, progressivamente, e sem sombra de dúvida, de caráter espiritual. Isso ficou nitidamente delineado ante as grandes e extraordinárias facilidades que vieram ao seu encontro para que difundisse ali, com amplitude, os seus altos princípios cristãos e evolucionistas. Assim foi como pôde fazer, sem dificuldades e com pleno êxito, quatro palestras públicas: três em amplos e confortáveis salões, a que concorreram inúmeros interessados, e uma pelo rádio. Em virtude desse resultado satisfatório, que surpreendeu
o próprio professor Parsifal, foi ele procurado no hotel por diversas pessoas, uma das quais lhe disse:

– Informaram-me de que o senhor focalizou, com eficiência, assuntos de grande utilidade para a Vida Humana em suas palestras públicas, que, por motivos
alheios à minha vontade, não pude ouvir. Gostaria que, por gentileza, dissesse algo sobre o tema: Quais as causas essenciais dos sofrimentos humanos? Como
eliminá-los ou reduzi-los ao mínimo? Por que é que o senhor se refere a causas essenciais dos sofrimentos humanos?

– È porque, a meu ver, os sofrimentos (físicos ou morais) constituem efeitos cujas causas aparentes são, às vezes, conhecidas, mas cujas causas essenciais são, quase sempre, desconhecidas.

– Especifique, em resumo, por favor, quais são essas causas essenciais, segundo o seu pensamento.

– Primeira – Faltas cometidas, recentes ou remotas.– Segunda – Transgressão, consciente ou inconsciente, das Leis que regem o Universo e o Homem. – Terceira – Indiferença pela Verdadeira Vida, que é a Vida do Espírito. – Assim, cada sofrimento representa, na minha compreensão, a consequência de um erro, o pagamento de uma dívida, o cumprimento de uma penalidade aplicada pelas Leis Divinas, ou – na melhor das hipóteses – a sacudidela que, interrompendo o sono da indiferença, desperta a Criatura para a Verdadeira Vida.

– Eu sabia que não há efeito sem causa, e que, para eliminar o efeito, é preciso atacar a causa. Mas, o difícil era precisar as causas e, mais ainda, as causas essenciais dos sofrimentos.

– De fato, atacando os efeitos, podemos conseguir um alívio, mas esse alívio é transitório, ao passo que eliminando as causas – as causas essenciais – fazemos cessar definitivamente os efeitos.

– Eu sei que as faltas cometidas são resgatadas através de sofrimentos (morais ou físicos), mas estou informado de que estes somente desaparecem após
o resgate completo da dívida espiritual. Poderão ser eliminados ou reduzidos ao mínimo antes de esgotado esse regate? Acha que alguém ou o próprio sofredor
poderá conseguir isso? Como ?

– Estudando, meditando, compreendendo e pondo em prática, diariamente, em todos os ambientes, os Ensinamentos Redentores, dentre os quais se destacam os de Jesus Cristo – que constituem um oceano para o qual desaguam todos os rios da Sabedoria Superior. – Conhecendo e cumprindo as Leis que regem o Universo e o Homem. – Realizando o Processo de Evolução Mental-Moral-Espiritual, por meio de trabalhos individuais e coletivos, estes últimos em frequentes e perseverantes reuniões. – Participando, nessas reuniões em ritmo continuado, de uma Fraternidade Verdadeiramente Cristã e do auxílio mútuo que todos ali se prestam. – Estendendo as mãos, também, aos que ainda não compartilham os benefícios dos Métodos Evolucionistas. – Cultivando o Altruísmo, pois ninguém pode evoluir permanecendo amarrado ao egoísmo. – Colocando-se, por meio de processos especiais, em frequente contato com as Vibrações Tonificantes e as Energias Rejuvenescedoras que promanam do Todo-poderoso, pois unicamente Deus pode fazer por nós aquilo que escapa às possibilidades humanas.

– Essa é, a seu ver, a melhor forma de eliminar ou reduzir ao mínimo os sofrimentos ?

– Sim, porque, nesse caso, o trabalho é integral, cortando os padecimentos pela raiz. Não se compara com os paliativos que suavizam os sofrimentos por algum tempo, mas não impedem que eles voltem, e, às vezes, até com maior violência.

– O senhor acha, então, que as provações, purificadoras dos pecados, possam ser suspensas, temporária ou definitivamente ?

– Sim, desde que o pecador se disponha a seguir, com absoluta firmeza, o Caminho de sua Redenção Espiritual, que, a meu ver, se resume no itinerário a
que me referi. Se o juiz terreno pode conceder ao preso de bom proceder o chamado “livramento condicional” – por que o Supremo Juiz não poderá fazêlo,
ao manejar as suas Leis Espirituais? O homem que resolve levar a sério o processo de sublimação espiritual, dedicando-se a ele com lealdade e sem interrupções, acaba conseguindo que a Divina Justiça lhe permita cumprir a pena fora da prisão dos sofrimentos, a qual poderá voltar, entretanto, se negligenciar e abandonar o luminoso roteiro que se propôs seguir.

– Parece-me racional, lógico e aceitável o que me diz. Mas... o senhor tem obtido provas concretas para chegar a tal conclusão ?

– Sim, a minha convicção provém de experiências práticas e de fatos concretos. Aliás, a convicção, para ser inabalável, deve ser baseada em comprovações
insofismáveis.

– Noto que o senhor se refere à necessidade de estudar, meditar, compreender e pôr em prática os Ensinamentos Redentores, dentre os quais destaca os de Jesus, considerando-os “um Oceano para o qual desaguam todos os rios da Sabedoria Superior”. Tenho observado, no entanto, que há pessoas dedicadas ao estudo da Bíblia, principalmente dos mandamentos de Jesus, há muitos anos, mas que, não obstante, continuam incorrendo nas mesmas faltas anteriores e
sendo aprisionadas em constantes sofrimentos físicos e morais. Que me diz a isso ?

– Penso que não basta ler e até decorar os textos evangélicos ou bíblicos, examinando-os superficialmente, pois é imprescindível penetrar-lhes na essência fundamental. É indispensável que o investigador se transforme, sob o influxo de Métodos Transcendentes, em exímio escafandrista, para mergulhar nas profundezas dos Mandamentos Cristãos e de outros Ensinamentos Superiores, a fim de extrair desse Oceano de Sabedoria – ainda repleto de arcanos e mistérios – as pérolas ali submersas. Do bom uso que fizer dessas pérolas, depende a sublimação espiritual que lhe permitirá mergulhar dentro de si mesmo, para conhecer-se a si mesmo e realizar-se a si mesmo.

– Para tanto, o senhor considera necessário um esforço sincero, dinâmico e ininterrupto, já em trabalhos individuais, já em reuniões? Esse esforço deverá
ser feito durante toda a vida ?

– Exatamente. Nisso consiste o principal segredo do triunfo. O que é melhor: efetuar esse nobre trabalho a vida toda, em benefício próprio e dos semelhantes – ou viver escravo dos sofrimentos? A propósito, convém termos sempre em vista o Ensinamento de Cristófilo: “O processo de sublimação espiritual, para não se inutilizar, deve ser como as águas dos rios e dos mares, que, em constante movimento, jamais se transformam em pântanos”.
Foi, portanto, assaz proveitosa a presença do Professor Parsifal na singular cidade de Salvador, onde ele deixou espalhada a semente evolucionista da Nova
Era de Recristianização, convicto de que germinará, porque ali o solo é fértil e os lavradores são bons.



Extraído de:

Jornal Verologia

Edição XL Nº 497 e 498
Artigo referente a Abril e Junho de 2014